O fim dos campos desportivos com relvado artificial como os conhecemos pode estar à vista em Portugal. A Comissão Europeia (CE) pretende proibir a construção de novos recintos com este tipo de piso em toda a União Europeia, e remover gradualmente os que já existem. Esta medida surge no âmbito dos esforços da Comissão para combater os microplásticos, com os campos de relva artificial a serem identificados como uma das principais fontes de emissão dessas partículas prejudiciais. Recentemente a venda de purpurina foi proibida em toda a união europeia pelos mesmos motivos.
Os campos sintéticos são constituídos por fibras de polietileno, o mais básico e mais barato tipo de plástico, sobre uma membrana de poliuretano ou látex, preenchidos com uma fina camada de areia para estabilidade, e uma outra camada das famosas e inconvenientes "borrachinhas pretas" que são basicamente pneus em fim de vida que são triturados em minúsculos pedaços. É este enchimento de borracha que é apontado como um dos principais emissores de partículas prejudiciais ao ambiente.
Num artigo publicado pelo Jornal Zap, e baseado na descoberta do espanhol El Confidencial, a CE estabeleceu uma meta de 8 anos para remover este tipo de enchimento, e sem alternativas à vista, ou pelo menos sem alternativas economicamente viáveis e comportáveis não só pelo clube médio do popular, mas até mesmo qualquer um da distrital e até Campeonato de Portugal, a corrida ao relvado sintético como o conhecemos pode mesmo estar para acabar.
Existem alternativas a este tipo de enchimento como a cortiça ou outro tipo especial de areia como tinha o antigo relvado sintético do bessa. O problema com estas alternativas está no custo e disponibilidade em escala da mesma forma que o pneu em fim de vida proporciona. Se já está caro colocar relva sintética, poderá ficar bem mais caro, senão mesmo logisticamente impossível assim que for proibido o uso de pneus no seu enchimento.
Do ponto de vista ambiental e da saúde, a decisão da CE parece ser amplamente apoiada. Um estudo publicado em 2022 na revista Environment International revelou que 80% das pessoas analisadas tinham microplásticos no sangue. Além disso, a Universidade de Santiago de Compostela tem investigado o impacto ambiental desses campos, e chegou à conclusão de que a borracha reciclada presente neles está a contaminar o ar e a água com partículas que são absorvidas por peixes e outros animais, que são mais tarde consumidos pelas pessoas. Por outras palavras, as pessoas estão mesmo a comer as borrachas pretas dos relvados artificiais aos poucos.
Ao longo dos anos a quantidade de microplásticos nos animais e consequentemente humanos tem vindo a aumentar, e apesar ainda não existir ainda evidências conclusivas e definitivas de implicações diretas na saúde humana, alguns estudos defendem que existe risco principalmente a nível gastro-intestinal, por ser a principal via de entrada dos microplásticos.
Do ponto de vista mais extremista há quem já apelide os microplásticos como sendo o amianto do século XXI, mas à data de hoje ainda não há evidências científicas suficientes que permitam sequer começar a fazer tais comparações, no entanto, podemos estar ainda no início da descoberta sem saber.
Qual é a sua opinião, deve-se proibir o uso da borracha ou manter o método de construção destes recintos desportivos?