O hooliganismo, fenómeno social e desportivo teve início no Reino Unido na década de 60 do século passado. Como todas as modas, sejam elas mais o menos assertivas, inocentes ou estapafúrdias, a moda do hooliganismo rapidamente se espalhou pelo mundo do futebol. Sendo uma força de confronto, para não dizer, de combate, será necessário uma tática e estratégia de conjunto, entre os vários elementos que compõem as “matilhas”, isto sem ofensa para os nossos amigos patudos.

É no seio destas organizações a que chamam claques, que florescem, cultivam, se repercutem e exaltam muitas ideologias e linhas de pensamento filosófico, que muitas das vezes, nada tem a ver com o desporto em geral e com o futebol em particular. Basta atentar nos nomes que utilizam essas hordas e nos emblemas, distintivos e adereços que usam. Não será preciso nenhum estudo oficial, para se afirmar que efectivamente é nos seios das claques organizadas que se gera e se fomenta muita da violência que se observa amiúde nos palcos desportivos, mormente nos estádios de futebol. O preocupante de tudo isto, é que muitas das vezes são os próprios clubes a incentivarem a apoiarem e a patrocinarem estas hordas de malfeitores. Acredito, que esta espécie de “braço armado” dos clubes até dê jeito para a intimidação, coacção psicológica e manipulação do exercício de funções dos outros agentes desportivos, a contento dos interesses dos tais clubes. Mas é feio, não é ético e acima de tudo é anti-desportivo.

A culpa é de todas as entidades que gerem o futebol e até das próprias Forças de Segurança, que têm os Oficiais de Ligação para “negociar” e coordenar com os chefes das claques. Que negociação, qual carapuça? Com terroristas não se negoceia. Têm que cumprir e acatar a ordem pública, como qualquer cidadão. Não cumprem? Balas de borracha, uns gazes lacrimogénios e umas cacetadas dadas a preceito, resolveriam o assunto de uma forma mais económica. Ou então, nos dias de “jogo de alto risco” deixá-los entrar em confronto com os seus congéneres. Disponibilizar as ambulâncias e acautelar a protecção de bens e deixa-los entra em “diálogo”.

Eles, que falam a mesma linguagem, haveriam de se entender. Quanto custa ao erário público uma “caixa de segurança” para escoltar umas centenas de vândalos do local da chegada para o estádio? Por que carga de água os meios de comunicação social, dão palco a esses desordeiros e anarcas, concedendo-lhes direito de antena, entrevistas e coisa e tal…está-se a gastar cera com fraco defunto. Assim, até se acham importantes, com direito a escolta e tudo.

Este meu desabafo e não passa disso mesmo, vem no seguimento das notícias das últimas horas em que os incidentes no desporto subiram 36% na última época desportiva. Numa época desportiva que houve a ausência de publico dos estados e polidesportivos, isto é inexplicável.

Segundo a APCDV-Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto, houve na última época 2.335 incidentes desportivos. O futebol foi responsável por 2.054 deles, um aumento de 88%, já que na época anterior se registaram 1.719. Isto sem gente nos recintos desportivos, relembro.

Mas, tem este desabafo outra intenção e só por isso faz sentido figurar neste espaço informativo. Enaltecer, elogiar e louvar a Associação do Futebol Popular de Barcelos e todos os agentes desportivos envolvidos neste fenómeno que é o Futebol Popular de Barcelos. Este evento desportivo decorre há 27 anos, somente interrompido pela situação pandémica do covid-19 e os casos de altercação da ordem pública são residuais, quase nulos.

De realçar, que como sabem todos os que seguem de perto o Futebol Popular de Barcelos, os recintos desportivos não são policiados e pelos vistos nem é preciso. Este fenómeno deveria servir de exemplo à Liga e à Federação Portuguesa de Futebol, para além de provar que as gentes da Barcelos, são gente de bem, que respeitam o adversário (no futebol não há inimigos, apenas adversários), que sabem assistir a uma partida de futebol, sem destilar ódio ou exercer violência gratuita. É gente que sabe estar, desportivamente muito culta e exemplar. Ensinem a fórmula a esses letrados dos gabinetes. Não me venham justificar que não há tanta paixão, tanta rivalidade e disputa, porque isso não haver tantos interesses em jogo. Treta! O clube de coração, da aldeia de cada um, quando perde, é motivo para se ficar com o fim de semana estragado e quando perde o outro clube da Liga, a coisa não atordoa tanto. Logo, a paixão e a disputa existem, só que são controladas e temperados pelo civismo e educação, pelos quais deve um cidadão e um desportista pautar o seu comportamento.

Os jogos dos Escalões de Formação da AFBraga, têm o interesse que têm, são só uns miúdos a jogar, está em disputa o que está e nem por isso deixam de ser policiados, constituindo este facto um custo oneroso para os clubes. E quando uma vez desabafei que não fazia muito sentido ter 22 miúdos atrás duma bola com a inocência que lhes é peculiar e ter ali um agente armado, para além da imagem pouco favorável havia um custo associado, propus acabar com o policiamento na Formação. Fui confrontado que as autoridades estavam ali, não pelos desacatos entres os miúdos, não que a integridade física dos árbitros estivesse em risco, mas, porque os pais que constituem maioritariamente a assistência desses jogos, as vezes entravam em confronto. Isto ainda realça e valoriza mais o comportamento das assistências, muitas vezes copiosos, do jogos do Popular de Barcelos. Oxalá assim continue.

 Mário Costa.