O dicionário Priberam diz-nos que praticar desporto é: “a prática regular de uma atividade que requer exercício corporal e que obedece a determinadas regras, para lazer, para desenvolvimento físico ou para demonstrar agilidade, destreza ou força…”

Obviamente que é uma definição redutora, minimalista e muito pouco técnica. Sem querer ser presunçoso, poderia dizer que falta referir que é também uma prática que requer para além das capacidades físicas, capacidades psíquicas, mentais e emocionais, e que dessa prática frequente e assídua resultam o desenvolvimento das capacidades físicas motoras (velocidade, resistência, força, flexibilidade e agilidade) e das capacidades coordenativas (orientação, equilíbrio, ritmo, adaptação, reação, etc…)

A prática de qualquer atividade desportiva, desde que “com conta, peso e medida” em função das capacidades físicas individuais e da idade do “atleta”, só traz benefícios para o praticante.

Uma prática desportiva pode ser: lavar o carro, fazer jardinagem, passear o cão, caminhar na natureza, dançar, participar num jogo desportivo colectivo, correr, nadar, etc… qualquer actividade que envolva o físico e a mente, desde que, implique dinamismo e dispêndio de energia física e mental é uma actividade desportiva. Obviamente que umas mais exigentes e técnicas do que outras. Cada actividade terá a sua especificidade: uma etapa de ciclismo ou uma prova de ultra-trail serão diferentes em termos de exigência física, do que uma caminhada pela praia acompanhado do nosso amigo de quatro patas. Uma participação numa prova de Tiro Desportivo será diferente da uma participação numa prova de Orientação ou duma prova Hípica. Os requisitos físicos (treino, descanso e nutrição) e todos os requisitos mentais são muito diferentes e são especificos, como facilmente se compreenderá.

São sobejamente conhecidas as hormonas libertadas no organismo dos praticantes de uma qualquer actividade desportiva, que aportam sensação de bem-estar e relaxe, às vezes sensação de euforia e a partir de determinada altura sensação de dependência. Sim, são substâncias que causam dependência, com a assiduidade da prática de determinada actividade desportiva. Os psiquiatras e psicólogos tem as explicações para isso, mas para os mais curiosos, podem “googlar”: dopamina, serotonina, endorfina…

Esta treta toda para ir ao cerne da questão: a falta que nos faz o nosso futebol popular. Quer como praticante, quer como dirigente ou árbitro, quer como simples apoiante aficionado. O futebol faz-nos falta, para o nosso equilíbrio mental e motivação para enfrentarmos a semana de trabalho a seguir a mais uma jornada desportiva.

Ó futebol tem este poder mágico, que mais nenhum desporto tem. Torna os praticantes e aficcionados dependentes e adictos, quase como uma substância psicotrópica. Desconheço se a sua falta e abstinência tem efeitos físicos e psicológicos tão intensos e nefastos como as tais substâncias licitas e ilícitas que nos viciam e nos tornam dependentes.

O futebol é tão intenso que põe reis, príncipes, presidentes e quejandos a vibrarem de um modo tão entusiasta com um golo da sua equipa, que os fazem esquecer os princípios da etiqueta e protocolo que impõem as tribunas VIP dos estádios;

O futebol é tão intenso que os chauvinistas franceses, ainda hoje não digeriram o golo do Éder, já lá vão 5 anos, e até a iluminação da Torre Eiffel com as cores da nossa Bandeira Nacional entrou em “panne” no dia desse jogo memorável para os portugueses;

O futebol é tão intenso, que na data que escrevo este artigo, 200.000 imbecis chauvinistas franceses, estão a fazer correr um baixo assinado para repetir o jogo com a Suíça, porque no penalty falhado por Mbappé, o guarda-redes suíço não estaria em posição legal;

O futebol é tão intenso, que ainda hoje os ingleses não perdoaram a Maradona (que Deus o tenha em bom descanso) o célebre golo com a mão (ou não), que valeu o apuramento da Argentina para as meias-finais do Mundial de 1986, vingando a Guerra das Malvinas e mandando os “camones” para casa maios cedo;

O futebol é tão intenso, que põe simultaneamente quatro ou cinco estações televisivas a debaterem um campeonato que está parado, mas, eles lá arranjam matéria para debaterem, muitas vezes até ao insulto, outras vezes a discutirem o sexo dos anjos;

O futebol é tão intenso e apaixonante, que duas horas antes de um derby, as TV´s nos põe a ver a traseira de um autocarro escoltado pela polícia, sirenes, jornalistas de moto e todo aquele séquito folclórico e fazem a cobertura na integra, da viagem do local do estágio de uma equipa, até ao estádio para ver…a traseira de um autocarro, os rails da via onde circula e os placardes indicativos e de sinalização;

O futebol é tão intenso e apaixonante, que não é difícil ver miúdos descalços de países do terceiro mundo, circulando nas favelas, musseques ou bairros de lata da Ásia à América Latina, passando por África, onde falta tudo o que é bem essencial, mas, envergam com orgulho a camisola do seu clube, com o nome do seu herói de eleição: Ronaldo, Messi, Zidane…

O futebol é tão intenso e apaixonante, que há diariamente jornais da imprensa escrita, dezenas de blogues e sites a falarem de desporto, que é quase sempre e só o futebol;

Decididamente o futebol é mais do que qualquer desporto, não é por acaso que lhe chamamos o desporto-rei. Uma espécie de narcótico ou como nos canta Abrunhosa:”…é madrugada, ou é alucinação, estrela de mil cores, extasy ou paixão…”

No nosso caso particular, o Popular de Barcelos, faz-nos imensa falta. É tudo isto, diria quase uma religião. Entrou no nosso quotidiano, há uns anos. De Setembro a Maio, todos os “Domingos às dez“ a bola rola, a paixão acende-se e os rituais mantem-se e repetem-se: o encontro com amigos que só os vemos no campo de jogos, a rifa solidária para ajudar o clube da casa, a bifana e o copo de vinho branco em jeito de pequeno almoço, que o nosso médico de família proíbe, mas há de compreender e tolerar (ele próprio um adicto do futebol e da bifana), o deslocamento para o restaurante, para o almoço com a família e a viagem sintonizada numa rádio local concelhia, que só se ouve aos domingos a partir do meio-dia. Só ela nos dá os resultados e classificações do Popular de Barcelos. Ao fim da tarde, a procura no site “zero-zero” o no facebook do “Domingo às Dez” de todas as incidências, de uma paixão contagiante e não explicável, ou talvez sim…

O Futebol Popular de Barcelos faz-nos falta. Estamos com saudades, quase a ressacar…este maldito vírus tem que nos deixar.

Até lá, não devemos precipitar o calendário das coisas e não queimar etapas. Não adianta começar um evento, se passado puco tempo de iniciado, houver a eventual necessidade de o neutralizar e cancelar. “As gatas apressadas parem os filhos cegos”, por isso, dar tempo ao tempo e deixar correr ao sabor do destino, mantendo a esperança. Fazer o que está ao nosso alcance para combatermos todos juntos a epidemia: manter o isolamento, usar máscara, vacinar-se e seguir as determinações da Direcção Geral da Saúde.

Até lá pratique desporto e proteja-se. No entretanto, acedam ao “Domingo às Dez” para estarmos juntos e em sintonia. Nós estaremos por aqui e daremos as novidades em primeira mão, como do costume. Seja o primeiro a saber e a partilhar.

 

Mário Costa

O autor escreve propositadamente em desacordo com o último Acordo Ortográfico, porque “Minha Pátria é a Língua Portuguesa” Fernando Pessoa