Esta é a segunda entrevista que fazemos ao Mister Miguel Sá Pereira. A primeira havia sido feita no dia 4 de Janeiro de 2018.

Tinha chegado ao Carapeços para assumir o comando da equipa em Setembro do ano de 2017 (quatro meses antes) e estávamos na 13ª jornada, sendo que o Carapeços ocupava nessa altura o 7º lugar a 11 pontos de distância do Líder (Leões da Serra) e a 3 pontos do Carvalhal, equipa que acabaria por se sagrar campeão.

Apesar do atraso nessa fase, o Mister ainda afirmava estar dentro dos objetivos, (campeonato e taça) mas que não chegariam a ser alcançados, chegando ao final do campeonato no 4ºLugar, com 65 pontos, a 9 do Campeão e aquém das espectativas.

O Miguel abriu a porta da inspiração aos seus jogadores, e fez com que mudassem o mundo de dentro para fora, com a conquista do 25º campeonato Popular de Barcelos, somando 89 pontos , batendo todos os recordes, e não será fácil no futuro alguém conseguir fazer melhor. 

Segue-se agora as perguntas.

1 - Na última entrevista na época passada estando o Carapeços com 11 pontos de atraso em relação ao líder, mesmo assim transmitias otimismo em conseguir recuperar e chegar ao título, pois faltavam ainda 21 Jornadas. Esta época em curso mesmo com 7 pontos de avanço sobre o 2º classificado, nunca te vi convencido que o campeonato estava ganho. Qual era o teu receio? Quebra da equipa, jogadas de bastidores? O que te fazia ser mais calculista?

“Este ano invertemos a mensagem que queríamos passar ao plantel. O nosso foco foi sempre o jogo seguinte. O jogo seguinte era sempre o jogo mais importante na luta pelo título.  Nunca tivemos receio de nada, baseamo-nos no realismo, no respeito pelo valor de todos os nossos adversários, sempre com uma postura humilde e muito ambiciosa.”

2 - Lembras-te de te ter alertado na época passada que o Carapeços sofria muitos golos! A tua resposta era sempre a mesma: “Não me importo de sofrer 3 ou 4 golos desde que a minha equipa marque sempre mais um que o adversário!” No entanto se fizermos a comparação dos 33 golos sofridos na época passada, com os 22 sofridos esta época, estamos a falar numa redução de 25 % o número de golos sofridos, o que te fez mudar este paradigma?

“Mudamos o processo, mas nunca abandonamos a ideia. Os meus jogadores sabem que dividimos a nossa forma de jogar em duas zonas: A defensiva, e aqui a tolerância à estratégia é intocável, e a zona ofensiva, onde os jogadores para além dos movimentos estratégicos que temos, têm a liberdade total para encontrarem coletivamente o caminho mais eficaz para o golo.

Admito que do ponto de vista defensivo este ano fomos uma equipa muito mais pragmática.”

3 - Em relação à época anterior o Carapeços foi muito igual nas conquistas de pontos em casa. Já nos jogos fora, o Carapeços na época passada só conseguiu somar 22 pontos, esta época somou  43 pontos, isto é, Mais 50% de pontos conquistados, como explicas esta viragem do antes para depois?

“Foi fator determinante para o título. Uma equipa que quer ser campeã tem que vencer muitos jogos fora de casa. Os dois primeiros jogos oficiais da época foram disputados em pelado, conseguimos duas vitórias categóricas, e na minha opinião acabou por se revelar muito importante para o resto da época.”

4 - O plantel foi retocado em relação à época anterior certo. Nós conhecemos muito bem que o Carapeços não entra em loucuras na aquisição de reforços, apesar de muita gente pensar o contrário. Apesar de teres que reforçar dentro do plafom disponível, podias ir mais além se te fosse passado um cheque em branco? Ou estás de acordo com a política do Carapeços, que foi sempre um clube muito conservador, e tudo se torna fácil se estudar bem o mercado? 

“Gostaria de realçar uma das principais vitórias que tivemos esta época: Terminamos o campeonato com o mesmo plantel que o iniciou. Isto demonstra o grande compromisso e carater dos nossos jogadores.

Reorganizamos o plantel em relação à época passada e na minha opinião ficamos a ganhar em todos os aspetos. Sobretudo ao nível da união, compromisso e frontalidade que sempre existiu esta época dentro do balneário.

Temos um plantel mais curto mas muito competitivo. Pelo que sei, o clube não ultrapassa e bem o seu orçamento, até porque os orçamentos mais altos não garantem títulos.

O facto de termos as melhores condições do campeonato, já é um fator atrativo quer para os treinadores quer para os jogadores, e neste aspeto, a direção da ADCD está de parabéns pela excelente obra que tem vindo a realizar.

5 - Uma pergunta direta: Após o Carapeços ter sido eliminado da Taça o que te passou pela cabeça? Pores o lugar disposição? Ou apenas pediste um voto de confiança à direção para lutar pelo único objetivo ainda ao alcance, que era vencer o campeonato?

Jamais pedia um voto de confiança à Direção. Se alguma vez eu sentisse que os responsáveis tivessem algum tipo de dúvidas sobre mim, era o primeiro a pedir para sair. A eliminação da Taça aconteceu por três fatores: injustiça, mérito do nosso adversário e por outro fator que não queria falar.

Aliás, justiça seja feita a toda a estrutura da ACDC, que sempre manteve uma postura de respeito por todos os intervenientes neste campeonato.

O que eu senti após esse jogo foi uma tremenda falta de respeito por parte de um árbitro, e coloquei junto da direção o meu lugar à disposição, caso eles entendessem que seria o melhor sobretudo para o interesse da equipa. Foi automaticamente recusado e colocamos um ponto final nesse assunto.”

6 - O que aconselhas a um jogador que começa a trabalhar contigo pela primeira vez, ter espirito de campeão treinar só quando pode, quais são as regras fundamentais que impões?

“Compromisso, humildade e paixão pelo treino e pelo jogo. A adesão aos treinos foi tremenda, e só em situações extraordinárias é que algum jogador falhava a um treino. Só com este grau de comprometimento seria possível vencer este campeonato.”

7 - Afirmaste na comunicação social, após consumado o título, que este campeonato foi o mais competitivo de sempre! Baseaste-te na qualidade das equipas e o futebol que todas praticaram, ou nos pontos que separam uma das outras equipas no topo da tabela e a luta pelo título? É que em diferença pontual o Carapeços tem mais 13 pontos que o 2º Classificado, e do 3º está a 23, para não falar no campeão da época passada que está a 27 pontos!

“Pelo nível competitivo, pela qualidade dos jogadores, treinadores, dos árbitros e da organização do campeonato, que a cada ano nos surpreende pelo trabalho desenvolvido. Já foi dirigente da AFPB, e sei o grau de exigência a que os dirigentes são sujeitos.

O campeonato Popular tem uma expressão tremenda no concelho. Estamos a falar de milhares de pessoas envolvidas. Os clubes hoje já são mais organizados e atrativos para jogadores e treinadores. E na minha opinião, o nível vai continuar a aumentar se não houver uma estagnação ao nível da gestão, este campeonato tem tudo para ser atrativo a todos os níveis.

8 - Fala-nos na estrutura do Carapeços desde a direção aos adeptos, e dos pilares onde esta Associação assenta “o seu recinto de jogos”!

“Tive o privilégio de trabalhar com uma direção competente, empenhada e que dá tudo em prol da ACDC. Na área desportiva tenho que enaltecer a paixão e dedicação do Carlos Vilarinho (Bravo), onde a nossa relação sempre foi cardeal e em sintonia em relação ao modelo desportivo que traçamos.

A direção é liderada pelo Cesar, um amigo que ganhei para a vida e um presidente que vive o clube 24 horas, acompanhado por uma direção que dá tudo pelo clube da terra, e que tem um trabalho invisível aos olhos dos sócios e adeptos, mas que é muito importante na organização de um clube.

Uma palavra de agradecimento aos pais e irmã do Rafa e do Ricardo Bravo, que foram fantásticos no apoio que nos deram em muitos momentos da época. 

Gostaria de agradecer a duas grandes figuras do clube enquanto atletas, ao Pires e ao Bruno Costa, que estiverem muitas vezes presentes no apoio à equipa.

Terminamos a época e sinto que os nossos sócios e adeptos voltaram a ter orgulho na ACDC. O clube estava habituado e vencer consecutivamente, e a perda do campeonato durante alguns anos levou a algum afastamento das pessoas. Este pode ser um ano de agregação e muito importante para o futuro deste clube.”

9 - O teu futuro passa por dar continuidade a este projeto no Carapeços? Isto é, continuar como treinador do Carapeços para pensares no próximo objetivo, que é lutar pela supertaça?

“Posso confirmar que tenho um convite para continuar, mas nesta fase tudo é possível. Treinar este clube é um orgulho imenso, conheci e conquistei amigos para a vida, mas tenho que me organizar do ponto de vista profissional. O processo ficará concluído na próxima semana, até porque o clube também tem que se organizar em relação à próxima época.

Se continuar ficarei com o mesmo grau de profissionalismo que tanto eu, como o Nuno sempre dedicamos ao clube, e aqui, deixo uma palavra ao meu adjunto que também teve um papel decisivo na preparação da equipa, e que para além de colaborador é um dos meus melhores amigos pessoais. Agradecimento também ao Zé Cana pelo apoio que deu à equipa.

Caso não seja possível a minha continuidade levarei este clube no coração, e com um sentimento que sempre dei o melhor de mim.”

 10 - Lembra aqui os teus maus momentos e os melhores momentos vividos neste Clube nestes dois anos de vivência. Seja resultados desportivos, sejam outras vivências com as pessoas e como as classificas?

A melhor história foi ter tido o privilégio de treinar este plantel. Temos uma frase escolhida desde o primeiro treino da época: As grandes histórias escrevem-se com o valor de grandes homens. Esta frase encaixa na perfeição na nossa história 2018-2019: Rafa, Luís, Miguel, Sérgio, Veloso, Azevedo, Marco Matos, Ricardo, Pombo, Vítor, Marco, China, Né, Edgar, Postiga, Romeu, Cenoura, Jorge Gomes, Ni, Samuel, Ruizinho, Wilson, Fábio Torres.